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Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Vinil e Purpurina

Parafernálias sobre a minha vida e a minha mente.

Qui | 24.10.24

A minha filha mudou da escola privada para a escola pública.

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Durante muito tempo, a educação dos meus filhos foi o principal investimento do nosso núcleo familiar. Continua a ser uma prioridade, mas, este ano, a minha filha mais velha, de 10 anos, passou a estudar numa escola pública.

O colégio onde a Lara estudou durante 8 anos era o melhor lugar que poderíamos desejar para ela: acolhedor, familiar, alinhado com os nossos valores principais e, acima de tudo, com as crianças e a sua formação no centro de toda a sua atividade. Lá, os meus três filhos aprenderam não só a ser bons alunos, mas, acima de tudo, a ser boas pessoas. Sempre que precisámos, o colégio apoiou-nos totalmente, mais e melhor do que poderíamos esperar. Sinto que valeu cada euro investido ao longo destes anos.

Então, por que mudámos a Lara?

Por vários motivos, nenhum deles relacionado com a qualidade do colégio.

- Em primeiro lugar, já tínhamos pensado que era razoável manter os nossos filhos no colégio até ao 4.º ano, por serem mais pequenos e por ser uma fase muito importante da sua formação, o que justificava o esforço que estávamos a fazer. De facto, foi um esforço financeiro mantê-los lá. Foi necessário priorizar gastos e fazer escolhas para que pudessem ali estar. A ida para o ensino público no 5.º ano foi uma decisão tomada desde o início.

- Por outro lado, acreditamos que numa escola pública os miúdos crescem mais, tornam-se mais independentes e ganham uma experiência de vida que lhes será muito útil no futuro.

- A maioria dos amigos da Lara também ia para a escola pública e fez sentido que ela os acompanhasse nesta transição. Não foi tanto o facto de os amigos influenciarem a saída do privado, mas influenciaram, de certa forma, a escolha da escola pública.

- O dinheiro que deixámos de investir no ensino privado é agora canalizado para as atividades extracurriculares dos miúdos. Entre eles, são cinco atividades, quatro das quais pagas. Acreditamos que estas atividades são muito importantes para a educação deles e, neste momento, escolhemos investir nelas.

E como é que isto está a correr?

Está a correr mais ou menos, não vos minto. Não está a correr mal, mas não posso dizer que esteja encantada com a escola pública e assumo desde já que estávamos mal habituados.

Vou explicar porquê.

Cantina: Há muitos alunos, filas enormes, miúdos a furar a fila por falta de supervisão, e a comida é pouca. A qualidade e quantidade da comida deixam-me triste. A Lara é magra, mas come tanto ou mais do que um adulto. Come de tudo: sopa, pão, fruta, legumes. Come o que gosta e o que não gosta. Mas, na escola, dão doses muito pequenas (a comida não é feita lá, mas entregue por uma empresa externa) e nem sempre a deixam repetir. Às vezes, tem de esperar que todos terminem para ver se sobra comida, mas não tem tempo para isso. A comida é insuficiente para aquilo a que ela está habituada. Posso estar a ser injusta, mas custa-me imenso pensar que alguém negue comida a uma criança que já comeu tudo o que lhe foi servido e ainda tem fome.

Telemóveis: Esta é uma luta que ainda tenho de vez em quando, dependendo da disposição. Na escola, os telemóveis são permitidos a partir do 5.º ano. Nem sei por onde começar a explicar porque é que acho isso extremamente errado. A Lara tem um telemóvel apenas para chamadas e mensagens, porque achamos que é o que melhor lhe serve. Mas, nos intervalos, acaba por não ter ninguém com quem brincar e fica sentada ao lado dos amigos, a olhar para o ecrã deles enquanto jogam. Parece que as crianças de hoje vão guardar como memórias de infância a paisagem de um ecrã de telemóvel e as alegrias dos jogos. Não consigo entender esta resistência em proibir os telemóveis durante os intervalos, mesmo que passe uma semana a pensar nisto.

Aulas: Ainda não entendi muito bem como é que os professores dão as aulas, e compreendo que estão limitados na atenção que podem dar aos alunos, mas custa-me ver que a Lara não parece ter uma ligação especial com a maior parte dos professores. No colégio, todos os meus filhos adoram os professores. Veem-nos como referências, como pessoas a quem podem recorrer e com quem gostam de estar. Na escola atual, a principal referência que ela traz são os gritos dos professores e os castigos. Imagino que não seja fácil para os professores, e sei que muitos estarão desmotivados, com razão, mas são os miúdos que acabam por perder.

Mas também há coisas boas:

- A Lara está mais independente e despachada.

- Ainda não sei se isto é bom ou não, mas parece estar a adaptar-se facilmente aos novos desafios que surgem, decorrentes de não ter sempre adultos a vigiar as crianças. Tem resolvido sozinha alguns conflitos com crianças mais velhas e parece gostar de ir para a escola. Encontra soluções criativas para as suas questões, principalmente para a falta de comida

- O facto de o tablet que usam em substituição dos livros ser gratuito (os livros de papel, que não são obrigatórios, comprámos nós), de distribuírem leite às crianças e de terem boas atividades extracurriculares gratuitas. Até agora, isto tem sido uma agradável surpresa, porque no privado pagávamos tudo.

Sinto que, nesta escola, a independência dos miúdos é muito estimulada, e isso agrada-me bastante. Para já, estamos confiantes na nossa decisão e vamos acompanhando de perto o que vai acontecendo na escola.

E por aí? Alguém que tenha feito uma transição semelhante, ou oposta, que queira partilhar a sua experiência?



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