Os meus 5 escritores portugueses preferidos e os seus livros
A possibilidade de ler sempre foi uma das minhas partes preferidas da existência. Desde que aprendi a ler, até hoje, a leitura incessante teve apenas um interregno pela melhor das razões e uma das partes mais maravilhosas da vida: o nascimento dos meus filhos.
Agora que estão um pouco mais crescidos e independentes (o mais novo tem 6 anos), recomecei a ler.
Tal como acontece com a música, gosto sempre de ler autores portugueses, paralelamente a outros estrangeiros. Para mim, é importante ler autores portugueses porque, além de acreditar que ler uma obra na língua em que foi escrita é uma experiência muito mais rica, que nos aproxima mais da mente do escritor, por outro lado, viver a mesma cultura (e o mesmo tempo dos escritores) proporciona-nos um entendimento e uma experiência muito mais profundos.
Por isso, hoje decidi partilhar os meus cinco autores portugueses preferidos (neste momento) e os seus livros de que mais gostei:
- Fernando Pessoa – Livro do Desassossego
- João Tordo – O Nome que a Cidade Esqueceu
- José Luís Peixoto – Cemitério de Pianos
- José Saramago – Ensaio sobre a Cegueira
- Valter Hugo Mae – O Filho de Mil Homens
Verifiquei, com curiosidade, que são todos homens, o que me deixa triste e é um indício de que ando a ler pouco.
E por que é que estes autores são os meus preferidos? Para além de gostar da sua escrita, gosto muito dos temas que abordam e da forma como o fazem. A abordagem filosófica das histórias e das personagens é o que mais me atrai. A densidade das personagens, o seu interior sombrio e intenso, é outra característica que me toca de forma profunda.
Gosto de livros que tratam da natureza humana de uma forma sensível, e em todos estes autores encontro isso. Encontro uma reflexão sobre a existência e uma inconformidade nesta dança estranha e difícil entre a nossa mente, as nossas emoções e a nossa relação com o mundo e com os outros. Para mim, qualquer um destes autores fala da existência de uma forma tão bonita e poética que me toca imenso.
No caso do livro O Nome que a Cidade Esqueceu, chorei imenso, como não o fazia há muito tempo, com o final da obra. Meses depois de o ter lido, ainda sinto o impacto que ele teve em mim. Acho que é um dos finais mais brilhantes que já li num livro. É daquelas coisas que eu gostaria de ter escrito.
Todos estes autores e livros falam do que há de mais humano nos homens e nas mulheres. E, de certa forma, talvez eu me identifique muito com a mente das personagens masculinas, por isso é que me emocionam tanto estes livros. No caso do Saramago, por exemplo, não me revejo nada nas suas personagens femininas. Consigo entender sempre melhor a mente dos homens destas histórias, que acredito de alguma forma refletirem a mente do próprio autor ou a sua visão do mundo.
Gosto destes personagens que vivem num conflito constante com o mundo e com os outros, que enfrentam a realidade como quem enfrenta uma tempestade de areia, água e trovoada, e encontram, de vez em quando, um abrigo temporário. Vivem com estranheza porque não conseguem fazer de outra forma. Não conseguem seguir, em paz, com a vida de uma forma rotineira, normal, expectável. Como se simplesmente não se encaixassem, porque não há como nos encaixarmos sem perdermos o essencial da nossa humanidade. Estes livros falam sobre aqueles que saem da multidão ordenada, os que olham para o que mais ninguém quer ver, os que mostram, com a sua forma de estar na vida, que a existência é caos e aleatoriedade.
Bom, não é que eu acredite que as coisas sejam exatamente assim, mas, de facto, esta forma de encarar a realidade e este conflito interior dos personagens é a mais poética e a que melhor matéria-prima dá aos livros, na minha opinião.
Alguma sugestão de autora portuguesa para mim? Claramente, estou em falha.